Altruísmo Eficaz

Por Holden Karnofsky (Blogue da GiveWell)

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O que é o altruísmo eficaz? (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Pixbay)

Estamos orgulhosos por fazer parte do movimento que está a nascer o “altruísmo eficaz”. O altruísmo eficaz vem sendo discutido em outros lugares (veja a palestra TED de Peter Singer e a Wikipédia); este texto expressa a nossa opinião sobre o que é o altruísmo eficaz e sobre o que não é.

O que é o altruísmo eficaz?

Para nós, “altruísmo eficaz” significa tentar fazer o máximo de bem possível com cada dólar e com cada hora de que dispomos. É uma maneira de pensar sobre moralidade que insiste na maximização do bem alcançado e não apenas na satisfação de  regras ou diretrizes. Para nós, isso implica:

  • Focar em como as nossas ações provavelmente podem afetar o mundo, em vez de como elas nos afetam a nós e aos nossos sentimentos. O altruísmo eficaz é compatível com a crença de que doar beneficia aquele que doa, mas não é compatível com fazer disso o objectivo principal da doação. Os altruístas eficazes normalmente têm orgulho em sua determinação em doar (seja tempo ou dinheiro) com base em argumentos que outros podem achar demasiado intelectuais ou abstractos, e na sua recusa em doar abaixo do que seria ideal mesmo quando a propaganda é emocionalmente convincente. O objetivo principal/motivador deve ser ajudar os outros e não sentir-se bem consigo mesmo. (Isso não significa que os altruístas eficazes não sejam apaixonados por aquilo que fazem ou que não obtenham recompensas emocionais; isso significa que sentir essa paixão e que obter tais recompensas resulta de estarmos centrados no impacto.
  • Estar aberto a trabalhar em qualquer causa, ao invés de nos comprometermos com uma causa à partida, baseados em interesses pessoais preexistentes. A seleção estratégica de causas se baseia na noção de que podemos fazer muito mais bem ao trabalhar em determinadas questões em vez de outras.
  • Estar aberto a abordagens pouco convencionais do que é fazer o bem. Por exemplo, os altruístas eficazes muitas vezes se dedicam a atividades que visam lucro, talvez porque estejam a “ganhar para dar” e talvez porque acreditam que tais atividades são, elas próprias, meios promissores de melhorar o mundo. Ter um trabalho lucrativo não se identifica com o comum – nem o estereótipo – de uma ação “humanitária” ou “altruísta” mas, para os altruístas eficazes, pode ser uma opção a ser considerada seriamente.
  • Usar os nossos recursos de pesquisa de modo eficienteNunca teremos toda a informação que precisamos para estarmos cientes das decisões ótimas. O altruísmo eficaz centra os seus debates, análises e pesquisas em questões que darão frutos tangíveis no sentido de melhor informar nossas decisões sobre como alcançar o bem.
    Diferentes grupos no movimento possuem diferentes visões do que isso significa. Alguns acreditam que é importante nos concentrarmos nas questões filosóficas (tais como “possibilitar um parto ou evitar uma morte, deveria ser valorizado do mesmo modo?”) que parecem em algum sentido “fundamentais” e altamente consequentes, quando se determina quais resultados deveríamos tentar alcançar. Nós temos uma visão diferente: acreditamos que questões como essa, por mais importantes que sejam, muitas vezes não são passíveis de progressos tangíveis por meio de mais investigação. Preferimos concentrar os nossos recursos em questões que combinem a “importância” com a “tratabilidade de uma investigação mais aprofundada”.

O altruísmo eficaz é incomum e controverso

Para muitos leitores deste blogue, as qualidades acima podem soar como sendo obviamente boas. Mas não acreditamos que a maioria das pessoas as veja assim.

À medida que a GiveWell e a Good Ventures exploravam as causas em que se deviam envolver, o conselho mais comum que recebíamos era “escolham aquilo que os apaixona”. Quando descrevemos o nosso desejo de fazer uma “seleção estratégica de causas” – escolhendo causas baseados em como podemos alcançar o maior bem – observamos uma boa dose de ceticismo e rejeição. É comum que as pessoas enfatizem a importância de “começar pelo coração” e receiam que o nosso compromisso com uma causa não seja genuíno (e que não seja consistente) se vier de uma escolha baseada numa análise estratégica.

Tal preocupação nos lembra a de David Brook na ideia de “ganhar para dar”:

Se escolher uma profissão que não instigue diariamente uma paixão e em vez disso servir algum tipo de bem abstrato e distante, você pode acabar se tornando uma pessoa que valoriza o distante ao invés do próximo. Pode se tornar uma daquelas pessoas que ama a humanidade em geral mas não os humanos imediatamente em seu redor… Ao invés de se ver como uma pessoa profundamente inserida numa comunidade particular, pode acabar observando friamente a humanidade tal como um deus desapegado.

(…) quando a maior parte das pessoas escolhe uma vocação, não querem uma que seja externamente útil. Querem uma que irão desfrutar, e que irá torná-las uma pessoa melhor. Querem encontrar aquele local, tal como descrito pelo novelista Frederick Buechner, “onde a sua mais profunda satisfação e a mais profunda fome do mundo se encontram”.

Acredito que tais preocupações interpretam erroneamente o altruísmo eficaz. O altruísmo eficaz não é uma alternativa a ter interesses pessoais e paixões; é um interesse pessoal e uma paixão. Nossa próxima publicação irá explorar melhor essa questão.


Texto de Holden Karnofsky originalmente publicado no blogue da GiveWell, em 13 de Agosto de 2013 (actualizado a 25 de Julho de 2016)

Tradução: Fernando Moreno. Revisão de Renata PazJosé Oliveira

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