O Altruísmo eficaz é uma pergunta (não uma ideologia)

Por Helen Toner (EA Forum)

AE-Pergunta

Altruísmo eficaz: questionar ou doutrinar? (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Pixabay)

Qual é a definição de altruísmo eficaz? Quais são as suas pretensões? Você tem que acreditar em quê, ou fazer o quê, para ser um altruísta eficaz?

Não me parece que qualquer destas perguntas faça sentido.

Não é surpreendente que as coloquemos: se você colocasse essas questões sobre o feminismo ou o secularismo, o islamismo ou o libertarianismo, as respostas que obteria seriam relevantes e esclarecedoras. Diferentes proponentes do mesmo movimento poderiam dar respostas ligeiramente diferentes, mas a síntese das respostas de várias pessoas lhe daria uma boa sensação acerca da essência do movimento.

Mas cada um destes movimentos está a responder a uma pergunta. Homens e mulheres devem ser como iguais? (Sim). Qual o papel que a igreja deve desempenhar no governo? (Nenhum). Que tipo de governo devemos ter? (Um baseado na lei islâmica). Quão grande deve ser o papel do governo na vida privada das pessoas? (Pequeno).

O altruísmo eficaz não é assim. O altruísmo eficaz pergunta algo, como o seguinte:

“Como posso fazer o maior bem com os recursos que tenho disponíveis?”

algumas excelentes introduções disponíveis acerca do Altruísmo Eficaz. Muitas vezes definem as conclusões comuns a que leva o pensamento do estilo do Altruísmo Eficaz: coisas como ganhar para dar, ou o favorecimento de intervenções em países mais pobres em vez de nos países mais ricos. Isso faz sentido — o altruísmo eficaz parece implicar que essas coisas são boas idéias — mas as conclusões não fazem parte da essência do movimento.

O que significa isso para a forma como pensamos e falamos sobre o altruísmo eficaz?

Reenquadrar o Altruísmo Eficaz como uma pergunta tem algumas implicações muito significativas. Estas não são necessariamente novas — algumas pessoas já agem de acordo com os pontos descritos abaixo. Mas acho que vale a pena pensar nisso de forma explícita.

1. Devemos tentar evitar chamar a nós mesmos “altruístas eficazes”

Feministas, secularistas, islamistas, ecologistas… não é surpreendente que as pessoas que pensam que o Altruísmo Eficaz é interessante e importante, queiram substituir o “ismo” por um “ista”, e usá-lo para se referir a si mesmos. A parte linguística do nosso cérebro faz isso automaticamente.

Mas há um grande problema com isso. “Altruísmo Eficaz” é um nome escolhido com cuidado e inteligência, e descreve sucintamente a sua própria questão essencial. Mas faz isso através da combinação de um adjetivo comum com um substantivo comum, o que significa que a mudança da última sílaba não lhe dá um identificador, mas uma reivindicação de verdade.

“Eu sou um altruísta eficaz” pode soar, para quem fala, como “Eu acho que o Altruísmo Eficaz é realmente importante”, mas para quem ouve, soa como “eu realizo atos altruístas de forma bem sucedida, eficiente, frutífera ou eficaz.” (Dicionários são divertidos!)

Altruísmo eficaz já é um nome um pouco atrevido, pois a sua pretensão de ser uma idéia inovadora, baseia-se na premissa de que outro altruísmo é ineficaz.

Chamar a si mesmo altruísta eficaz é muito pior. Além disso provoca ceticismo ou hostilidade, leva automaticamente a perguntas como “Posso fazer [x] e ainda ser um altruísta eficaz?” “Quanto tenho que doar para ser um altruísta eficaz?” “Como é que um altruísta eficaz justifica gastar dinheiro em algo além da mera sobrevivência?” Estas questões nos dão a impressão de que devem ter respostas significativas, mas tentar responder-lhes provavelmente não vai nos levar muito longe.

Descrições alternativas incluem “aspirante a altruísta eficaz”, “interessados em Altruísmo Eficaz”, “membro do movimento de Altruísmo Eficaz”… O que acha dessas opções? Tem outras? Ainda assim quando poderia ser apropriado usar “altruísta eficaz”?

2. As nossas ações e causas sugeridas, são as nossas melhores suposições, e não as idéias essenciais

É extremamente importante que o Altruísmo Eficaz se traduza em ações no mundo real. Até à data, as sugestões mais concretas vêm da GiveWell, sob a forma de recomendações de instituições de caridade. A própria GiveWell é extremamente boa a rever as suas recomendações em linha com as melhores informações e análises disponíveis. Eles nunca afirmam que as transferências de dinheiro, ou a desparasitação, são parte da essência do seu programa.

Entusiastas do altruísmo eficaz que apoiam causas comuns no AE, tais como direitos dos animais, a redução da pobreza extrema, ou o bem-estar das gerações futuras, precisam manter isso no fundo de suas mentes. Não é coincidência que essas causas sejam proeminentes dentro do Altruísmo Eficaz — cada uma delas parece oferecer oportunidades significativas para fazer o bem.

Mas só podem ser assim tão proeminentes enquanto forem áreas onde um grande impacto positivo pode ser feito. Assim que mudar a nossa compreensão do que pode tornar o mundo um lugar melhor, as nossas ações e prioridades também devem mudar.

Isto também significa que…

3. Podemos honestamente dizer aos outros que queremos ser convencidos de que a sua causa é melhor

É muito tentador, ao encontrar o movimento do Altruísmo Eficaz, pensar que se descobriu a Maneira de Concertar o Mundo e só é necessário compartilhá-la com os outros para que tudo fique melhor. Mas isso, simplesmente, não é o caso.

Não sabemos o que pensar sobre as mudanças políticas. Não podemos medir os efeitos a longo prazo de aumentar a educação das crianças pobres. Não temos nenhuma boa maneira de comparar os ganhos potenciais de investigar curas, com os ganhos de tratamentos imediatos.

Então, quando alguém novo no Eficaz Altruísmo começa a falar sobre a causa que acha mais importante — especialmente se for alguém que você considera ponderado e inteligente — não o descarte, nem lhe diga que a Melhor Coisa a Fazer já foi encontrada e que a coisa dele é obviamente pior. Pergunte-lhe sobre isso!

É realmente incomum para alguém que apóia um movimento querer ativamente mudar suas opiniões. Mas essa é a posição em que cada aspirante a Altruísta Eficaz se encontra.

Qualquer um que possa nos ajudar a responder à pergunta que mais nos preocupa, é um aliado valioso. Podemos e devemos dizer a qualquer um que discorde de nossas crenças que nós, de fato, queremos verdadeiramente ser persuadidos a pensar o contrário. Isso não só irá tornar mais fácil nos levarem a sério — como também irá aumentar as hipóteses de dirigirmos bem nossos esforços.

Em suma: pensar sobre o Altruísmo Eficaz como uma pergunta em vez de um conjunto particular de crenças ou políticas, tem algumas implicações úteis e interessantes. Isso levanta questões  sobre o que “conta” como altruísta eficaz, ou o pode ser debatido em uma organização Altruísta Eficaz — e se você estiver sinceramente tentando descobrir como fazer o maior bem, isso importa. Mostra que o Altruísmo Eficaz não é apenas sobre doar para intervenções de saúde em África. Lembra-nos que ainda não sabemos realmente como ser altruístas eficazes.

Posso imaginar um futuro hipotético em que não concorde com o conjunto de pessoas que se identificam com o “Movimento AE”. Mas não posso imaginar um futuro em que não esteja tentando descobrir como responder à pergunta: “Como posso fazer o maior bem?”

 


Texto originalmente publicado por Helen Toner no Effective Altruism Forum (a 16 outubro de 2014).

Tradução de Thiago Tamosauskas. Revisão de José Oliveira.

 


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