Por José Oliveira

Inteligência Artificial em 2023, o que esperar? (Arte digital: José Oliveira | Foto: Possessed Photography, Robynne Hu, Michael Dziedzic)
“Breves do AE”: resumos de publicações AE que servem essencialmente como estímulo à leitura do original, mas que, por constrangimentos de tempo, ou restrições de direitos autorais, não poderíamos traduzir. Embora se pretenda transmitir o seu essencial, poderá haver algumas digressões pessoais ou alusões às referências do original (assinalado a azul para diferenciar).
Eis o primeiro “Breves do AE” a partir do artigo de Kelsey Piper: “Pensa que a IA foi impressionante no ano passado? Espere até ver o que está para vir” (Future Perfect, Vox, 04/01/2023).
IA em 2022, como foi?
Quando há quase uma década uma parte significativa do movimento AE se começou a interessar pela Inteligência Artificial como área de causa a priorizar, poderia pensar-se que, face ao cepticismo geral, esse seria um golpe fatal para a possibilidade de crescimento e popularização do movimento. Mas, em 2022, nem mesmo a cobertura noticiosa dos meios de comunicação mais conservadores conseguiu evitar a catadupa de acontecimentos ligados à IA, que a Kelsey Piper enumera deste modo:
- Disrupção na área de criação de imagens: torna-se cada vez mais evidente o risco de automatização em massa na área do design e das artes em geral. Aparentemente essa mudança é tão radical que já está a forçar transformações nessa indústria, desde a incorporação da IA nos processos artísticos, à alteração da legislação de direitos de autor, ou à censura dessas imagens em determinados contextos, etc.
- Disrupção na área de jogos de guerra: depois do Xadrez e do Go, segue-se a conquista de um outro jogo de estratégia, o Diplomacia (online). Ora isto acresce em dificuldade e importância por vários factores: por envolver a confrontação com múltiplos jogadores, por estes desencadearem várias acções em simultâneo, por estas acções serem precedidas de rondas negociais para consertar alianças estratégicas para antever as acções dos oponentes e derrotá-los (rondas em que muitos jogadores, sem o saber, preferiram negociar com Cícero, a IA em causa, acabando esta por vencer).
- Disrupção na área da criação de escrita: 2022 terminou com a viralização do ChatGPT, um modelo de linguagem IA da OpenAI, que responde a todo tipo de questões com uma sofisticação sem precedentes. Neste caso talvez a menor das nossas preocupações seja o prenúncio de uma disrupção no mundo académico (em que a facilidade de cometer fraude faz antever, desde já, uma alteração de processos e instrumentos de avaliação, se não mesmo dos curricula).
E mesmo que uma produção, virtualmente ilimitada, de todo o tipo de texto e imagem (e estratégia de guerra!) não fosse suficientemente preocupante, Kelsey Piper não deixa esquecer disrupções semelhantes prestes a acontecer nos sectores que envolvem a composição musical, a animação em vídeo, a escrita de código e a tradução.
IA em 2023, o que esperar?
Certamente bastariam as consequências das inovações já aqui enumeradas como factor de preocupação para 2023. No entanto Kelsey Piper arrisca a previsão daquilo que este ano nos pode reservar quanto a inovações da IA:
- Avanços na área da criação de imagens: relativamente às falhas que são apontadas aos sistemas actuais, o mais certo é que, em grande medida, mesmo que não na perfeição, estas venham a ser superadas (nomeadamente no âmbito da interacção de personagens e destas com objectos).
- Avanços na área da criação de texto: nomeadamente através de geradores de texto que produzam melhores respostas do que o ChatGPT (o anúncio da incorporação deste num motor de busca da Microsoft, o Bing, ou o lançamento do GPT-4 parecem ser o suficiente para vir a consubstanciar esta previsão).
- Avanços na área da criação de código: dependendo do custo desses sistemas, é possível que até metade dos engenheiros informáticos passem a incluir essas ferramentas no seu trabalho.
- Avanços na área dos “amigos” IA: irão proliferar os assistentes pessoais virtuais ou os “amigos” IA com pelo menos 3 opções substancialmente superiores aos modelos actuais (ie. Siri e Alexa).
Apesar destes avanços serem consideráveis, em contraste com a opinião de alguns especialistas, as previsões que Kelsey Piper apresenta poderão ser também bastante conservadoras.
Eis a opinião do presidente e co-fundador da OpenAI, Greg Brockman:
“Previsão: 2023 fará com que 2022 vá parecer um ano dormente em termos do avanço e adopção da IA”.
As previsões de Kelsey Piper poderão falhar, assume ela, ao estarem enviesadas por aquilo que ela deseja (ex. que 2023 fosse um ano suficientemente “dormente” para possibilitar a nossa adaptação aos desafios da IA) em vez de serem previsões assentes naquilo que se pode observar (ex. para onde apontam os incentivos e os desenvolvimentos tecnológicos — e estes, de facto, não apontam para um “ano dormente”!).
[Leia o original aqui.]
Por José Oliveira (com a colaboração de Rosa Costa).
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