Por José Oliveira

Feliz Dia de S. Valentim! (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Sidney Pearce)
Hoje é Dia de S. Valentim. Dia dos Namorados. Tipicamente nesse dia fazemos pequenos actos de bondade para agradar a quem gostamos. Temos ideia que isso é algo positivo não só para essa pessoa, como para nós. Temos boas lembranças associadas a esses momentos. Então, por que razão não alargamos esses pequenos actos de bondade a mais pessoas e ao resto dos dias do ano?
Colocando essa questão, Allie Volpe, repórter sénior da Vox, dá voz a especialistas e aos seus estudos na área. É esse o caso de Gillian Sandstrom, especilista em Psicologia da Bondade, e a sua investigação sugere (bem como vários outros estudos) que a relutância face ao sentido de compromisso ou obrigação acrescida dessas acções é o que nos faz subestimar o valor que os outros lhes atribuem.
Subestimamos o quanto os outros gostam de nós?
Normalmente é a forma como nos desvalorizamos que nos dá a entender como é que os outros nos vêem, e não propriamente as críticas que recebemos nas nossas interacções.
Nessas interacções temos receio de não termos piada, de parecermos desadequados ou chatos, e normalmente lembramo-nos mais vivamente das situações em que isso aconteceu. A Psicóloga Marisa Franco atribui esse tipo de assumpções pessimistas ao viés da negatividade, no qual assenta a tendência das pessoas para não arriscar encetar novas acções (mesmo que bem intencionadas).
Este tipo de percepção é de tal modo persistente que originou o termo liking gap [disparidade no gosto] em que se estuda a disparidade na forma como subestimamos o quanto os outros gostam da nossa companhia — e estende-se a outros domínios, como escrever notas de agradecimento, enviar mensagens ou oferecer uma chávena de chocolate quente.
Como a bondade destes pequenos gestos também tende a melhorar o nosso bem-estar, isso leva Amit Kumar, professor assistente de Marketing e Psicologia, a questionar porque é que não aproveitamos as oportunidades de agir desse modo, centrado nos outros, visto que isso é também um modo de nos sentirmos melhor.
Porque não fazemos pequenos actos de bondade?
Ao estudar o impacto positivo dos actos de bondade e das cartas de gratidão, Kumar concluiu que a hesitação das pessoas está relacionada com o facto de muitas vezes não reconhecermos o poder desses actos para os outros, centramo-nos no valor da oferta e não na emoção de quem a recebe. Peggy Liu, professora associada de Administração de Empresas, nos seus recentes estudos, também encontrou no factor surpresa, face ao inesperado, um sentimento de ansiedade acrescido que poderá agir como factor de dissuasão face a esses pequenos actos espontâneos de bondade.
Por outras palavras, Kumar explica que “o óptimo não deve ser inimigo do bom”, ou seja, o gesto em si é mais importante do que o conteúdo. E é isso que os seus estudos têm sugerido, pois quem está no lado de receber sente-se apreciado, mas quem está no lado de dar também se sente feliz. Concluindo que mais vale fazer esses pequenos actos de bondade do que os evitar por medo de rejeição ou qualquer outro constrangimento.
Vale então a pena ser vulnerável?
Liu apresenta uma dica para evitar que se desista desses pequenos actos de bondade: se nos apanharmos a duvidar, devemos contrapor com a lembrança de como nos sentimos bem quando estamos no lado de quem recebe. E Franco acrescenta que ao ignorarmos o impulso de fazer esses pequenos actos de bondade podemos estar a perder a oportunidade de estabelecer laços significativos. Por isso aconselha, baseada nos seus estudos, que devemos partir do princípio que as pessoas gostam de nós, até porque é isso que nos torna mais amigáveis, visto que, quando somos demasiado sensíveis à rejeição, tendemos a ser menos amigáveis e afastamos os outros.
Perante o apelo desses pequenos actos de bondade, conclui que nos devemos expor, com optimismo, pois mesmo a potencial rejeição é um preço que vale a pena pagar para se ter interacções significativas.
“Breves do AE”: resumos de publicações relacionadas com o AE que, por constrangimentos de tempo, ou restrições de direitos autorais, não poderíamos traduzir. Estes resumos servem essencialmente como estímulo à leitura dos textos originais aqui referidos.
Por José Oliveira (com a colaboração de Rosa Costa).
Descubra mais sobre Altruísmo Eficaz
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.



