Ideias de políticas e investigação para reduzir os riscos existenciais

Por 80,000 Hours (EA Forum)

Como reduzir os riscos existenciais? (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Yoal Desurmont)

No seu livro The Precipice: Existential Risk and the Future of Humanity (O Precipício: Riscos Existenciais e o Futuro da Humanidade), o administrador da 80,000 Hours, Dr. Toby Ord, sugere uma série de investigações e de projectos concretos que os governos poderiam financiar para reduzir o risco de uma catástrofe global que poderia limitar permanentemente as perspectivas da humanidade.

Compila mais de 50 destes projectos num apêndice, que reproduzimos abaixo. Talvez não fique convencido por todas estas ideias, mas elas ajudam a dar uma noção da amplitude de plausíveis projectos longotermistas disponíveis em política, ciência, universidades e negócios.

Há muitos riscos existenciais e estes podem ser enfrentados de diferentes maneiras, o que faz com que seja provável que existam grandes oportunidades à espera de serem identificadas.

Muitas destas propostas são discutidas ao longo  d’O Precipício, que pode comprar aqui.

Recomendações de políticas e investigação

Pandemias Concebidas em Laboratório

  • Alinhar a Convenção sobre Armas Biológicas com a Convenção sobre Armas Químicas: elevando o seu orçamento de 1,4 milhões para 80 milhões de dólares, aumentando proporcionalmente os seus colaboradores, e concedendo o poder de investigar suspeitas de infracções.
  • Reforçar a capacidade da Organização Mundial de Saúde de responder rapidamente a pandemias emergentes através da vigilância, diagnóstico e controlo da doença. Isto implica aumentar o seu financiamento e poderes, bem como a Investigação e Desenvolvimento face às tecnologias necessárias.
  • Certificar-se de que toda a síntese de DNA é rastreada para detectar patógenos perigosos. Caso não seja possível alcançar um controlo total  através de auto-regulação pelas empresas de síntese, então será necessária alguma forma de regulamentação internacional.
  • Aumentar a transparência em torno dos acidentes nos laboratórios de biossegurança de nível 3 e de nível 4.
  • Desenvolver normas para lidar com os riscos da informação e incorporá-los nos processos de verificação existentes.
  • Realizar exercícios de simulação de cenários para pandemias graves concebidas em laboratório.

Inteligência Artificial Não Alinhada

Asteróides e Cometas

  • Investigar o desvio de asteróides e cometas com um raio de mais de 1 km, talvez exclusivamente com métodos que não possam ser utilizados como armas, nomeadamente aqueles que não levem a mudanças precisas na trajectória.
  • Conseguir que os cometas de período curto sejam incluídos no mesmo enquadramento de risco que os asteróides próximos da Terra.
  • Melhorar a nossa compreensão dos riscos dos cometas de período longo.
  • Melhorar a nossa modelação de cenários de inverno de impacto, especialmente para asteróides de 1 a 10 km. Trabalhar com especialistas em modelação climática e em modelação de invernos nucleares para ver o que dizem os modelos modernos.

Erupções Super-vulcânicas

  • Encontrar todos os lugares onde ocorreram erupções super-vulcânicas no passado.
  • Melhorar as estimativas muito vagas sobre a frequência destas erupções, especialmente para as erupções maiores.
  • Melhorar a nossa modelação de cenários de inverno vulcânicos para ver que tamanhos de erupção poderiam representar uma ameaça plausível para a humanidade.
  • Estabelecer contacto com figuras de destaque da comunidade de estudiosos de asteróides para aprender lições com eles quanto à sua modelação e gestão.

Explosões Estelares

  • Construir um modelo melhor para essa ameaça, incluindo distribuições conhecidas de parâmetros, em vez de confiar em exemplos representativos. Depois, realizar uma análise de sensibilidade nesse modelo — haverá algum parâmetro plausível que possa tornar isso uma ameaça tão grande quanto os asteróides?
  • Manter a mentalidade aberta relativamente a qualquer das formas em que as estimativas actuais possam estar a desvalorizar o risco por um factor de cem ou mais.

Armas Nucleares

  • Reiniciar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF).
  • Renovar o tratado de controlo de armas New START, que expira em Fevereiro de 2021.
  • Retirar os Mísseis Balísticos Intercontinentais dos EUA do alerta máximo (oficialmente chamado de Lançamento em Alerta).
  • Aumentar a capacidade da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para verificar se as nações estão a cumprir os acordos sobre salvaguardas.
  • Trabalhar na resolução das principais incertezas na modelação de invernos nucleares.
  • Caracterizar as incertezas restantes e depois utilizar o método de Monte Carlo para mostrar a distribuição das possibilidades de resultados, concentrando-se especialmente nos piores cenários possíveis compatíveis com aquilo que sabemos actualmente.
  • Investigar que partes do mundo parecem mais resistentes quanto aos efeitos do inverno nuclear e qual será a probabilidade de a civilização continuar aí.

Clima

  • Financiar a investigação e desenvolvimento de abordagens inovadoras para a energia limpa.
  • Financiar investigações sobre tecnologias de geoengenharia segura e governação da geoengenharia.
  • Os EUA deveriam voltar a aderir ao Acordo de Paris.
  • Realizar mais investigações sobre as possibilidades de um efeito de estufa descontrolado ou efeito de estufa húmido. Haverá alguma forma de estas poderem ser mais prováveis do que se pensa actualmente? Haverá alguma forma de as descartarmos de forma inequívoca?
  • Melhorar a nossa compreensão dos fenómenos de feedbacks do permafrost e do hidrato de metano.
  • Melhorar a nossa compreensão do fenómeno de retroalimentação  das nuvens.
  • Caracterizar melhor a nossa incerteza sobre a sensibilidade climática: o que podemos ou não dizer sobre a cauda da direita na distribuição.
  • Melhorar a nossa compreensão do aquecimento extremo (por exemplo, 5 a 20° C), incluindo a busca de mecanismos concretos através dos quais este poderia representar uma ameaça plausível de extinção humana ou o colapso global da civilização.

Danos Ambientais

  • Melhorar a nossa compreensão sobre se qualquer tipo de esgotamento de recursos representa actualmente um risco existencial.
  • Melhorar a nossa compreensão da actual perda de biodiversidade (tanto regional como global) e como esta se compara com a dos eventos de extinção do passado.
  • Criar uma base de dados da diversidade biológica existente para preservar o material genético das espécies ameaçadas.

Geral

  • Explorar opções para novas instituições internacionais que visem reduzir os riscos existenciais, tanto opções incrementais como revolucionárias.
  • Investigar possibilidades de tornar a imposição deliberada ou imprudente de riscos de extinção humana um crime internacional.
  • Investigar as possibilidades de incluir a representação das gerações futuras nas instituições democráticas nacionais e internacionais.
  • Cada grande potência mundial deveria nomear para um cargo superior governamental um responsável pelo registo e resposta a riscos existenciais que se possam prever realisticamente nos próximos 20 anos.
  • Encontrar os principais factores de riscos existenciais e factores de segurança — tanto em termos de dimensão absoluta como em termos de custo-eficácia das mudanças marginais.
    • (Nota do editor: os factores de riscos existenciais são problemas, como a escassez de recursos naturais, que não nos colocam em risco directo de extinção, mas podem, no entanto, aumentar indirectamente o risco de um desastre. Os factores de segurança são ao contrário, e podem incluir melhores mecanismos para resolver disputas entre as grandes potências militares).
  • Orientar os esforços para reduzir a probabilidade de conflitos militares entre os EUA, a Rússia e a China.
  • Melhorar a exploração de horizontes a longo termo para riscos imprevistos e emergentes.
  • Investigar substitutos alimentares em caso de redução extrema e duradoura da capacidade do mundo para fornecer alimentos.
  • Desenvolver melhores ferramentas teóricas e práticas para, quando está muito em jogo, avaliar os riscos  que não têm precedentes ou que se pensa terem uma probabilidade extremamente baixa.
  • Melhorar a nossa compreensão da possibilidade de recuperação da civilização após um colapso global, o que poderá evitar isso e como melhorar as nossas hipóteses.
  • Desenvolver o nosso pensamento sobre a grande estratégia para a humanidade.
  • Desenvolver a nossa compreensão da ética dos riscos existenciais e da valorização do futuro a longo termo.

Publicado originalmente por 80,000 Hours no EA Forum, a 27 de Abril de 2020. 

Tradução de Rosa Costa e José Oliveira.


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