O que me dá esperança

Porque tenho esperança? (Arte digital: José Oliveira | Foto: Levi Guzman)

Recuando alguns meses, ouvi uma entrevista com Peter Singer no podcast de Lex Fridman e ele mencionou as 80,000 Hours. Ao longo de muitas noites, enquanto o meu filho recém-nascido dormia ao meu colo no sofá, li as vossas páginas de ideias-chave e perfis de problemas e comecei a pensar em como poderia mudar a minha carreira para maximizar o impacto que esta teria a longo prazo.

Por vezes, ser um altruísta eficaz é muito difícil. Há tanto sofrimento no mundo e não há garantias de que as pessoas no futuro possam sequer chegar a existir. Há muito trabalho a fazer para tentar contrariar estas coisas e o trabalho geralmente não é fácil — quer se trabalhe num emprego de alta pressão para ganhar dinheiro para doar, quer se tenha de tomar decisões difíceis e stressantes sobre as formas de resolver grandes problemas, ou quer se tenha de candidatar a cargos para tentar descobrir a melhor forma de dar o seu contributo.

Nos momentos mais conturbados do altruísmo eficaz, uma das coisas que mais me anima é ler as candidaturas que recebemos de pessoas que querem falar com a nossa equipa. Ler os planos de tantas pessoas para as suas carreiras e percursos no altruísmo eficaz desperta em mim, alternadamente, sentimentos de humildade, comoção e inspiração. Faz-me lembrar quantos de nós estamos a trabalhar em conjunto para melhorar o mundo, e como os meus companheiros de viagem são dedicados e atenciosos. Isso faz com que enfrentar os problemas do mundo pareça algo um pouco mais fácil de gerir. 

Queria tentar partilhar alguns dos sentimentos suscitados pela leitura destas histórias. Não pretendo endossar acções específicas. Em particular, penso que uma coisa que o AE faz bem é evitar glorificar o sacrifício, deixando claro que quanto menos esforço for necessário para ajudar alguém, melhor. Mas o facto de as pessoas estarem dispostas a fazer o que é necessário, mesmo com grandes custos pessoais, significa realmente que é mais provável que sejamos capazes de fazer coisas difíceis. Também considero isso profundamente comovente.

As histórias das pessoas são comoventes de muitas maneiras diferentes. Algumas pessoas passaram por momentos muito difíceis enquanto cresciam e, no entanto, conseguiram ultrapassar isso com a determinação de utilizar o seu tempo para ajudar os outros. Outras têm uma infinidade de opções que lhes trariam riqueza e prestígio, mas decidem dedicar o seu trabalho a descobrir como ajudar os outros o máximo possível.

Gostaria de partilhar algumas histórias de pessoas que conheci (sem mencionar detalhes por razões de anonimato). Espero que estas histórias lhe transmitam um pouco da admiração e do sentimento de ligação aos outros que sinto quando leio sobre essas pessoas.

  • O estudante de medicina, próximo de concluir a sua formação, e que planeia mudar radicalmente de carreira. Depois de se envolver com o AE, está disposto a assumir um papel numa área totalmente diferente, apesar de todo o trabalho árduo investido no seu curso e apesar de a sua escolha poder ser incompreensível para a sua família.
  • O introvertido que está disposto a passar o seu tempo livre a angariar fundos porta a porta, apesar da sensação horrível que é para si pedir dinheiro às pessoas.
  • O vegano que doa 10% dos seus rendimentos e que doou um rim a um desconhecido, mas que (incrivelmente!) resume as suas contribuições até à data como algo normal e como se fosse o que qualquer pessoa faria.
  • O estudante que escolheu a universidade com base na possibilidade de terminar o seu curso o mais rápido possível para poder ajudar os outros por esse mundo fora.
  • O professor universitário, com muitos anos de carreira, disposto a mudar completamente a sua área de investigação ou abandonar o mundo académico, após ler The Precipice e perceber que as suas competências poderiam ser aplicadas para aumentar a resiliência da humanidade.
  • O reformado antecipado que deliberadamente poupou o suficiente para se reformar aos 40 anos, mas que está disposto a trabalhar num emprego difícil numa empresa para ganhar dinheiro para doar.
  • O vencedor de um dos concursos internacionais de matemática mais difíceis, que se interessava por uma carreira em matemática pura, mas que decidiu, em vez disso, trabalhar em problemas aplicados que acredita terem o maior impacto a ajudar os outros.
  • O estudante que já doa uma parte significativa do que ganha e se sente sortudo por poder fazê-lo.

As histórias acima, e muitas outras semelhantes, são sempre incríveis de ler. Mas ainda há uma enorme quantidade de pessoas que levam muito a sério a ajuda aos outros.

Há realmente muitas pessoas dispostas a passar muitas horas a planear cuidadosamente a sua carreira, apesar de isso poder ser desagradável.      

Candidatar-se a um emprego consome tempo e provoca ansiedade, e ainda assim há tantas pessoas dispostas a enviar dezenas de candidaturas para encontrar o cargo que lhes permita ajudar mais os outros.

Fazer a investigação necessária para comparar o impacto de diferentes percursos é complexo e trabalhoso. Contudo, há tantos estudantes de ciências a ler filosofia para tentar entender o que constitui impacto, e estudantes de humanidades a analisar estudos empíricos para descobrir quais intervenções são realmente mais eficazes.

Também é incrivelmente comovente ouvir falar de pessoas que se comovem ao verem a pobreza na sua vizinhança e, no entanto, fazem donativos para ajudar pessoas do outro lado do mundo, porque acreditam que todas as vidas são iguais e que é assim que podem ajudar mais os outros; ou que tentam descobrir como podem ajudar pessoas que viverão daqui a centenas, milhares ou milhões de anos, apesar de se sentirem profundamente tristes com o sofrimento no mundo actual e de saberem que, por isso, não o poderão evitar. (Já escrevi anteriormente sobre como penso que isso é difícil, abordando o meu próprio caso).

Temos muito trabalho pela frente para livrar o mundo do sofrimento e garantir que as pessoas no futuro tenham a oportunidade de viver. Mas as pessoas que vejo constantemente dispostas a fazer esse trabalho… dão-me esperança.

Este post surgiu quando um dos meus colegas disse que me ia gravar a elogiar a simpatia das pessoas sempre que analiso as nossas candidaturas e que ia divulgar a gravação num podcast para que todos pudessem saber o quanto gosto de todos os nossos candidatos. Também agradeço ao Arden Koehler pelos muitos comentários úteis.



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