Por Julia Wise (Giving Gladly, 2013)
.

Ajudar com alegria? (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Nathan Dumlao)
.
Quando eu era jovem, fiquei extremamente impressionada quando percebi que a minha escolha de fazer ou não uma doação significava a diferença entre a vida e a morte de outra pessoa. Muitas das minhas escolhas começaram a parecer obviamente erradas.
Lembro-me de dizer ao meu pai que tinha decidido que seria imoral se eu tivesse filhos, porque isso desviaria muito do meu tempo e dinheiro de causas mais nobres. “Não parece o estilo de vida que irá fazer você feliz”, dizia ele.
“Não é a minha felicidade que está em jogo”, respondia eu.
Alguns anos depois me arrependi amargamente de minha decisão. Sempre quis e tive a intenção de ser mãe, e me senti frustrada. Isso estava me deixando doente e infeliz. Eu via o resto da minha vida mais como uma obrigação do que uma alegria.
Então, Jeff e eu decidimos que não valia a pena ter um esgotamento por causa disso. Decidimos reservar o suficiente para nossos gastos pessoais, de modo que tivéssemos condições razoáveis para criar um filho. Olhando para trás, para os registros no meu diário, antes e depois da decisão, fico impressionada com quanta diferença isso fez na minha forma de ver o mundo. Imediatamente depois de nos darmos permissão para sermos pais, fiquei novamente animada com o futuro. Não sei quando realmente teremos um filho, mas só a possibilidade já me ajudou a sentir que as coisas irão ficar bem. E creio que o sentimento de satisfação com a minha própria vida me permite ajudar mais o mundo do que se eu fosse uma altruísta destroçada.
Tenho frequentado reuniões Quaker nos últimos dez anos. Seu fundador, George Fox, deu a seus seguidores este conselho em 1658: “Sejam modelos, sejam exemplos em todos os países, lugares, ilhas, nações onde quer que cheguem; que a vossa conduta e estilo de vida possam pregar entre todos os tipos de pessoas, e para eles; então vocês caminharão alegremente por todo o mundo, respondendo ao que há de Deus em todos; e assim vocês poderão ser uma bênção para eles.”
Os Quakers tendem a enfatizar a parte sobre “o que há de Deus em todos”, com o que isso implica em termos de igualdade: como pode ser correto ter escravos, por exemplo, se o escravo tem um elemento divino em si?
Mas a minha parte favorita é a palavra “Alegremente”. Fox era um homem que havia sido preso e espancado por suas crenças religiosas – sem dúvida ele tinha o direito de ser amargo. O Quakerismo mais tarde desenvolveu um estilo severo e sisudo, mas George Fox não era assim.
Algumas coisas eu posso fazer alegremente. Acontece que desistir de ter filhos não era uma delas. Outras pessoas não teriam qualquer problema em abdicar da paternidade, mas eu suspeito que todo mundo tem algo que, ao ser sacrificado, poderia causar uma enorme quantidade de dor.
Portanto, teste seus limites, conheça as mudanças que você pode fazer para ajudar os outros sem lhe custar demasiado caro. Mas quando achar que algo está fazendo de você uma pessoa amarga, pare. O altruísmo eficaz não significa que você tenha que se levar ao esgotamento. Não precisamos de pessoas que façam sacrifícios que as deixem esgotadas e infelizes. Precisamos de pessoas que possam caminhar alegremente pelo mundo ou, pelo menos, que façam o melhor que puderem.
Publicado originalmente por Julia Wise em Giving Gladly, em 8 de Junho de 2013.
Tradução de Thiago Tamosauskas. Revisão de José Oliveira.
Descubra mais sobre Altruísmo Eficaz
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.



