Ajuda dos EUA congelada – como ajudar e para onde doar

EUA não ajuda, o que fazer? (Arte digital: José Oliveira | Fotografia: Kelly Sikkema)

É difícil acreditar que o panorama da saúde a nível mundial tenha mudado de forma tão significativa no espaço de apenas um mês. Queríamos informar a nossa comunidade sobre aquilo que sabemos até ao momento e sobre o impacto que isso poderá ter nas suas decisões de doação.

Um resumo da situação:

O congelamento do financiamento da ajuda dos EUA deixou milhões de pessoas sem acesso a serviços de saúde essenciais a nível mundial. Embora tenha sido emitida uma ordem judicial para reverter temporariamente o congelamento, é pouco provável que o governo a cumpra. O pessoal da USAID e o acesso aos sistemas foram arrasados e – apesar de o governo ter declarado um programa de isenção para actividades que salvam vidas – muitos programas elegíveis não conseguem obter isenções e muitos daqueles que as têm não conseguem efectivamente obter o financiamento que as isenções prometem.

Muitos estarão a pensar: “Haverá alguma coisa que eu possa fazer?”

O que está a ser feito e como pode ajudar

A boa notícia é que várias pessoas dentro do ecossistema da doação eficaz estão a dar um passo em frente para ajudar a colmatar as lacunas de financiamento criadas pelo caos e a permitir que as organizações de alto impacto afectadas possam continuar os seus programas. Em seguida, forneceremos algumas informações sobre como pode apoiar esse trabalho crucial. Mas, antes de mais, eis alguns aspectos a ter em conta quando pensar no que isto significa relativamente às suas decisões de doação:

A situação é altamente incerta. É importante assinalar que há muita coisa que não sabemos e que para as organizações que trabalham nesta área tem sido difícil obter esclarecimentos. Não é claro se o financiamento será retomado e, caso seja, qual o montante destinado e a que programas. Isto torna os cálculos de custo-eficácia extremamente difíceis.

A relação custo-eficácia é mais importante do que nunca. É improvável que todos os programas afectados consigam reiniciar o seu trabalho e reconstruir as suas operações. Dar prioridade aos programas mais custo-eficazes essencialmente significa que podemos fazer com que o dinheiro tenha maior alcance – restaurando a protecção a mais pessoas.

Os programas apoiados pela GiveWell estão a sofrer os efeitos do congelamento, em diferentes graus. Embora os principais programas de caridade da GiveWell não recebam financiamento directo da USAID, algumas das suas principais instituições de caridade são indirectamente afectadas pelo congelamento; por exemplo, algumas podem depender de programas financiados pela USAID ou de fornecedores para levar a cabo as suas operações. Além disso, alguns dos outros beneficiários da GiveWell, excluindo as principais instituições de caridade, recebem financiamento directo da USAID.

Continuamos a recomendar os programas da GiveWell. Neste momento, não recomendamos que se deixe de apoiar os programas da GiveWell para apoiar os fundos que foram explicitamente criados para colmatar as lacunas de financiamento. Se faz donativos para os programas da GiveWell, já está a apoiar o tipo de trabalho que sofreu cortes – e está a fazê-lo através de programas altamente custo-eficazes .

  • Dito isto, se, tal como nós, confia na capacidade da GiveWell para identificar oportunidades custo-eficazes, pode considerar a possibilidade de transferir o financiamento das principais instituições de caridade da GiveWell para o seu Top Charities Fund [Fundo para as Principais Instituições de Caridade] ou para o seu All Grants Fund [Fundo para Todas as Doações], que podem ser mais flexíveis neste cenário de financiamento em rápida mutação. A GiveWell está a ter em conta o recente congelamento do financiamento nas suas decisões de concessão de fundos e planeia conceder verbas para satisfazer necessidades de financiamento urgentes. Neste momento, está a tentar atribuir alguns fundos urgentes, ao mesmo tempo que poupa verbas para grandes lacunas de financiamento críticas que possam surgir nos próximos meses.
    • Ao fazer um donativo para o Fundo para Todas as Doações, a GiveWell tem mais flexibilidade para responder estrategicamente, uma vez que os fundos não estão limitados apenas às principais instituições de caridade e o calendário de concessão de fundos é mais flexível, tornando-o mais adequado para responder a necessidades de financiamento de emergência. Dito isto, a GiveWell continua a aconselhar os doadores que dão prioridade ao mais elevado nível de confiança a fazerem donativos ao Fundo para as Principais Instituições de Caridade, dado que conhece melhor estas organizações. Note-se que – embora a GiveWell esteja a ter em conta o congelamento do financiamento nas suas decisões de concessão de fundos – os donativos para o Fundo para Todas as Doações ou para o Fundo para as Principais Instituições de Caridade podem ou não ser canalizados para os novos financiamentos que a GiveWell está a conceder especificamente na sequência da ordem de interrupção dos trabalhos.

Não sabemos como é que a doação para este fundo se compara com a doação para o Fundo para Todos as Doações ou para o Fundo para as Principais Instituições de Caridade. Numa situação tão incerta, é difícil saber como é que a estratégia de dar expressamente prioridade às doações directas às organizações afectadas se compara com a estratégia que a GiveWell está a seguir, e alguns doadores podem preferir uma abordagem em vez da outra.

O Rapid Response Fund [Fundo de Resposta Rápida]: Lançado pelo Founders Pledge e pela The Life You Can Save, este fundo visa colmatar lacunas críticas de financiamento das principais recomendações e de outras organizações de grande impacto afectadas pelo congelamento da USAID, para que possam continuar os programas que salvam vidas. Leia mais e faça um donativo aqui.

Unlock Aid’s Bridge Fund [Fundo Provisório de Desbloqueio da Ajuda]: Este fundo não está explicitamente ligado ao ecossistema de doações eficazes; alguns dos parceiros da coligação são recomendados por avaliadores centrados no impacto, mas muitos não o são. Embora os seus critérios declarados pareçam dar prioridade a organizações custo-eficazes, não analisámos a sua fasquia de custo-eficácia e pensamos (embora não tenhamos a certeza) que este fundo seja, de um modo geral, menos custo-eficaz do que apoiar o Fundo de Resposta Rápida. Leia mais e faça um donativo aqui.

Outra forma importante de ajudar

As lacunas de financiamento dos programas de saúde que salvam vidas a nível mundial não são novidade. Apesar de os EUA serem responsáveis por 42% da ajuda humanitária global monitorizada pela ONU, as despesas dos EUA com a ajuda representam uma pequena fracção do seu orçamento total, variando entre 0,7% e 1,4% de 2001 a 2025. A ajuda governamental há muito que não consegue prestar serviços que salvam vidas a quem deles necessita, levando a que cerca de 14 000 crianças morram diariamente de causas maioritariamente evitáveis, e as organizações sem fins lucrativos há muito que têm de intervir para ajudar a colmatar a lacuna deixada pelos governos. Agora, esta lacuna é muito, muito maior.

Por outras palavras, a situação actual agrava significativamente uma crise em curso que é normalmente “silenciosa” – dando visibilidade ao facto concreto de que há pessoas no mundo que estão a perder a vida simplesmente porque não há financiamento e/ou infra-estruturas suficientes para que intervenções de baixo custo, como redes contra a malária, água potável e nutrientes essenciais, cheguem até elas.

As pessoas comuns têm o poder de ajudar a assegurar este financiamento e muitas vezes não têm consciência da dimensão do problema nem do poder que têm para fazer uma diferença concreta. Se as pessoas com quem convive estiverem angustiadas com a crise da USAID, espero que as ajude a sentirem-se menos impotentes, partilhando as oportunidades de financiamento acima referidas. Se apoia os programas da GiveWell, partilhe-os também – fale sobre a razão pela qual escolheu apoiar estes programas mesmo antes do congelamento da ajuda, e como o seu apoio é agora muito mais importante. Dê visibilidade à crise “silenciosa” em curso que, infelizmente, persistirá mesmo que os programas financiados pela USAID possam reiniciar as operações.

A doação eficaz é mais importante agora do que nunca e a acção colectiva não pode ser subestimada. Vamos trabalhar em conjunto para prestar serviços que salvam vidas a quem precisa, apoiando (e divulgando) programas de grande impacto – com a esperança de que este apoio continue muito depois de as manchetes dos jornais desaparecerem.


Subscreva a Newsletter da GWWC.

Tradução de José Oliveira🔸.


Descubra mais sobre Altruísmo Eficaz

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário