O impacto das nossas escolhas na sobrevivência das crianças

Por Peter Singer (Bold Reasoning with Peter Singer)

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Em 2011, em Foshan, uma cidade no sul da China, uma menina de 2 anos chamada Wang Yue afastou-se da sua mãe, que estava ocupada a trabalhar, e foi atropelada por uma carrinha [Br. van] que não parou. Enquanto a menina estava caída na rua, a sangrar, 18 pessoas passaram por ela, mas nenhuma parou para a ajudar. As imagens das câmaras de vigilância mostraram que era impossível não a terem visto, mas desviaram o olhar quando passaram por ela. Enquanto ela estava aí caída, uma segunda carrinha passou-lhe por cima da perna antes de uma pessoa que limpava a rua a ter visto e alertado para a situação. Wang Yue foi levada de urgência para o hospital, mas, infelizmente, morreu antes de lá chegar.

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Pode estar a pensar: “Como é que todas aquelas pessoas a ignoraram?” E também pode dizer a si mesmo: “Eu teria parado para ajudar”. Talvez o tivesse feito. Mas esta tragédia revela que, apesar de muitos de nós termos os meios para ajudar aqueles que se encontram em situações menos afortunadas do que nós, muitos de nós optamos por não o fazer. Qualquer uma daquelas 18 pessoas poderia ter ajudado. Em vez disso, fecharam os olhos e tornaram-se meros espectadores.

Segundo a UNICEF — o Fundo das Nações Unidas para a Infância — em 2022, cerca de 5 milhões de crianças com menos de 5 anos morreram de doenças evitáveis ou tratáveis. Neste momento, algures num país de baixos rendimentos, um menino está a morrer de sarampo. Se ele pudesse ir para um hospital, teria boas hipóteses de sobreviver, mas isso exigiria dinheiro que os pais não têm. Assim, ele morre lentamente e de forma dolorosa. Tanto está a morrer de pobreza como de sarampo.

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Não se trata de uma história hipotética; isto está a acontecer neste preciso momento a centenas de crianças. As pessoas pobres dos países com baixos rendimentos têm taxas de vacinação mais baixas do que as outras, pelo que têm mais casos de sarampo e a sua incapacidade de pagar o transporte ou os tratamentos significa que morrem com mais frequência. Isto acontece todos os dias. A Organização Mundial de Saúde afirma que, em 2022, se registaram 136 000 mortes, sobretudo de crianças. Enquanto muitas crianças morrem de má nutrição, muitas mais morrem de doenças evitáveis e curáveis, como o sarampo, a diarreia e a malária. Nos países com rendimentos elevados, estas doenças não representam uma ameaça mortal e algumas nem sequer existem. As crianças que vivem na pobreza são vulneráveis a estas doenças porque não têm acesso a recursos básicos, como água potável e saneamento. Quando adoecem, os pais não têm como pagar o tratamento médico ou não sabem qual será o tratamento necessário.

Qual é a relação da história de Wang Yue com o facto de muitos milhões de crianças morrerem devido à pobreza? Ambos os casos revelam a nossa tendência perturbadora para ignorar quem precisa de ajuda, mesmo quando os meios para ajudar estão ao nosso alcance. O destino de Wang Yue foi determinado pela inacção, tal como a inacção significa que todos os dias milhares de crianças morrem de forma evitável. No entanto, a história não tem de terminar aqui.

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Traduzido com a permissão de Peter Singer.

Publicado originalmente em Bold Reasoning with Peter Singer, a 13 de Março de 2024

Tradução de José Oliveira.